As apresentações na aula de PLE

As apresentações na aula de PLE

Como muitos professores de português como língua estrangeira sabem, é fundamental que as atividades que pedimos aos nossos alunos os coloquem nos três modos comunicativos para que as aulas, de alguma forma, sejam um reflexo da realidade que eles vão encontrar no espaço de língua portuguesa para o qual se estão a preparar. O Modo Expositivo, apesar de ser aquele em que um falante da língua se encontra com menos frequência, é aquele que no contexto da aprendizagem proporciona aos alunos mais oportunidades de autocorreção e verdadeira aprendizagem autónoma. Ou seja, este é momento comunicativo em que os alunos apresentam informação não-espontânea que resulta de um processo em que eles pesquisam, filtram e reorganizam de forma significativa essas informações e em que têm a oportunidade de ensaiar, rever, reordenar, adicionar ou subtrair o que vão apresentar. Este processo permite aos alunos ativar muitos conhecimentos prévios e cria a oportunidade de estranhar elementos que precisam de ser reescritos ou afirmados de outra forma. Os estudos mostram que o grau de retenção de vocabulário e estruturas novas por parte dos alunos é maior no contexto de um projeto de comunicação expositiva do que através de correções explícitas por parte dos professores.

Fazer uma apresentação em frente de todos os colegas é uma situação que provoca ansiedade, sobretudo nos níveis iniciantes. Quantas vezes não ouvimos os alunos expressar nervosismo quando no primeiro dia de aulas veem uma apresentação como parte do programa do curso? Quanto melhor preparados estiverem os alunos, menos ansiedade sentirão. Além disso, quase todos os alunos dizem que a habilidade de falar é a sua prioridade, e falar só se aprende falando. É por isso que, por exemplo, nas nossas aulas usamos trabalho de grupo, com a apresentação do que o grupo discutiu.

As apresentações proporcionam aos alunos a oportunidade de falar sem interrupções e com propriedade sobre um assunto de importância, em que colocam em prática aspetos linguísticos e extralinguísticos de níveis de proficiência superior durante a sua exposição. Para ajudar os nossos alunos, ficam aqui algumas ideias que podem ajudar:

1. Qual é o tema? Falar sobre o quê?

Neste aspeto, a apresentação pode estar relacionada aos temas que os alunos estão a estudar no momento, ou pode ser uma apresentação formal, por exemplo, a meio ou no final do semestre. No primeiro caso, os professores podem optar por distribuir tópicos específicos relacionados com o que estão a trabalhar, e no segundo, os professores podem permitir aos alunos escolher os tópicos, ainda que dentro das temáticas do curso. Ou seja, no primeiro caso, se acabaram de estudar o futuro, talvez os alunos possam falar sobre os possíveis planos para o próximo fim de semana, ou das férias de verão, e no segundo um tema mais geral.

2. Falar quanto tempo?

Isto é importante para o planeamento que os alunos precisam de fazer. Claro que há condicionantes que não controlamos, se temos uma aula com muitos alunos, as apresentações terão menos tempo e vice-versa; se dedicarmos um dia para as apresentações, ou três, também vai afetar, mas esta a questão do tempo tem que ser decidida pelos professores logo no início do processo, e tem que ser claramente transmitida aos alunos. Não existe uma resposta ideal. Alguns alunos ficam nervosos com apresentações mais longas, mas ao fim de uns minutos relaxam e apresentam muito bem, outros ficam nervosos com apresentações curtas e nunca se conseguem relaxar e mostrar o pleno das suas habilidades. Costumo dizer aos meus alunos que as apresentações serão de 10 minutos, seguidas de 5 minutos de perguntas e respostas, mas a realidade é que muitos alunos acabam por falar os 15 minutos, ou seja, se lhes dissermos 5 minutos, é provável que façam uma apresentação de 10 minutos.

3. Qual é a mecânica? Como?

O que é que é esperado deles? A apresentação é para informar ou promover, persuadir ou motivar? Os alunos podem ou devem usar audiovisuais – fotos, vídeos, áudios, mapas, gráficos etc.? Os alunos podem ter notas com eles, podem ler, ou não? Os audiovisuais podem apresentar frases completas ou ter apenas algumas palavras? (Alguns alunos, quando lhes dizemos que eles não podem ler, escrevem tudo nos powerpoints e leem dos slides.) Os professores podem deixar que sejam os alunos a fazer estas escolhas, mas recomendo que as expectativas para estas questões sejam claramente estabelecidas desde o início.

4. Organização das ideias: afirmar - detalhar - expandir

Esta é uma técnica simples de organizar uma apresentação que obtém bons resultados. Primeiro, apresentam uma afirmação central. (Nunca bebi uma caipirinha, mas vou preparar uma este fim de semana.) Depois, têm que dar detalhes sobre a declaração, inclusive utilizando audiovisuais. (Fazer esta bebida alcoólica requer vários ingredientes: açúcar, limão, cachaça e gelo.) Finalmente, fecham com uma afirmação que expande a informação inicial. (Se vocês vierem a minha casa este fim de semana, podem provar uma verdadeira caipirinha.) Muitos alunos aprendem na escola secundária o trio introdução-desenvolvimento-conclusão. Esta é uma forma de recuperar essa técnica para a aula de língua estrangeira.

5. Quando? Onde? O quê?

Vocês lembram-se das questões que encontramos no lead de uma notícia? Quando? Onde? O quê? Porquê? Quem? Como? Estas são ótimas perguntas que uma boa apresentação deve responder. É importante chamar a atenção dos alunos para isto, assim, durante os ensaios, eles têm uma forma de verificar se está tudo certo.

6. Leitura de notas

Uma das coisas que os alunos tendem a fazer é escrever toda a apresentação e tentar decorar palavra por palavra. Este não deve ser o objetivo da apresentação e aconselho que falem com os seus alunos abertamente sobre isso. Além de muitos alunos ficarem “presos” a uma palavra que não se conseguem lembrar e arruinarem a fluência e cadência, a apresentação é um exercício oral, e não um exercício de memória ou leitura. Mostrem-lhes como vocês preparam as suas aulas, mostrem os seus planos de aula com a lista de temas e palavras-chave, como vocês vão introduzindo cada um na aula de uma forma mais ou menos espontânea. Estas palavras-chave servem para dar seguimento às ideias e são aspetos essenciais que necessitam ser mencionados, mas são guias para uma informação não memorizada.

7. Ideias completas

As apresentações, em particular, devem ser feitas com uma linguagem clara e organizada, porque os alunos têm um público pelo qual são responsáveis. Dizer "No fim de semana, fiz caipirinhas, convidei amigos, e meus vizinhos vieram também, e depois meus pais telefonaram e meus amigos foram para o pátio, como podem ver, foi muito divertido..." não é fazer uma apresentação, é falar com fragmentos de forma incoerente e desconectada. Os alunos devem aprender a organizar seus pensamentos e falar de forma coerente com frases completas. Falem com eles sobre como evitar frases intermináveis. Esta é uma habilidade que podemos ir trabalhando durante o semestre. É preciso que os professores façam com que os alunos falem em frases completas em outras circunstâncias da aula, e é importante também que todos os alunos tenham a oportunidade de falar/praticar à frente dos colegas na aula (Cada vez que fazemos trabalho de grupo, dou o título de “Relações públicas” a um aluno diferente – esse aluno é responsável por apresentar à aula as conclusões do seu grupo). Quanto mais os alunos são colocados nesta situação, menos ansiosos estarão durante as suas apresentações e melhor expressarão as suas ideias.

8. Olhos nos olhos, alto e bom som

Uma das coisas que pode ter maior impacto negativo na forma como os alunos fazem as suas apresentações é a falta de contacto visual e falar baixo ou murmurar. Durante o semestre, podemos fazer algumas coisas para os alunos aprenderem a projetar a voz. Às vezes, podemos exagerar a nossa habilidade de entender os alunos que falam baixo, indo para uma parte da sala longe deles antes de fazermos uma pergunta, para que falem mais alto. Também podemos fazer com que os alunos trabalhem em grupos, mas que estejam sentados longe uns dos outros. Isto pode transformar a aula num ambiente muito barulhento, mas é esse o objetivo.

Para que os colegas se sintam engajados pela apresentação, os alunos têm que aprender a olhar nos olhos e “varrer a aula”, ou seja, olhar de um lado para o outro, olhar para todos os colegas, e não fazer a apresentação só para alguns (todos temos um “campo morto” ou uma área da sala para a qual não olhamos instintivamente e é preciso combater essa tendência, porque os alunos nessa parte da sala “adormecem”). Por outro lado, é necessário que tentem pronunciar de forma clara, e podem até diminuir um pouco a velocidade a que falam. Sobretudo no início, é positivo sacrificar a rapidez em favor da correção – alguns alunos, especialmente quando estão nervosos, tentam falar ou ler o mais rápido possível, o que interfere na sua habilidade de se fazerem entender. A habilidade de perceber se estão a falar muito rápido ou muito lentamente é muito importante. Os alunos que falam ou leem muito rápido acabam por não entender a estrutura e significado do que estão a dizer, e isto afeta a compreensão dos colegas que ouvem. A experiência é a única forma de adquirir esta habilidade e aqui o uso de gravações áudio ou vídeo é a forma mais eficaz de eliminar este problema. Por outro lado, é bom que eles saibam que quanto mais praticarem, mais rápido conseguirão falar.

Em termos de feedback, esta é uma área que os professores devem conscientemente incluir.

9. Não-verbal

Uma vez que as apresentações nas nossas salas de aula são um passo naquilo que os alunos deverão conseguir fazer no futuro, em termos profissionais, não é demais ajudar os alunos a terem uma visão completa deles mesmos. Há técnicas utilizadas em outras profissões que podemos sugerir por serem de grande utilidade para os nossos alunos. Por exemplo, muitos atores e músicos utilizam um espelho para praticar as suas apresentações e compreenderem como serão percebidos. Os nossos alunos podem fazer o mesmo e verificar a postura, se colocam as mãos nos bolsos ou têm tendência para cobrir a boca com a mão. Eles devem verificar se mexem em objetos ou criam outras distrações para o público. Sorriem ou têm cara séria? Mantêm a cabeça erguida, com os olhos no público, ou escondem a cara? Isto vai ter uma grande influência na forma como apresentam e como são ouvidos pelos colegas. Esta técnica também pode ajudar os alunos a encontrar um equilíbrio entre vaguear e esbracejar pelo palco e parecer uma estátua. Os movimentos e gestos devem contribuir para expressar uma ideia ou focar a atenção de todos. Os alunos também podem usar um vídeo para descobrir estas coisas, apesar de para muitos ser estranho verem-se numa televisão.

10. Audiovisuais

A utilização de audiovisuais pode ser obrigatória ou não, os professores decidem. Os alunos devem poder escolher fotos, vídeos, áudios ou até mesmo objetos reais. No entanto, o mais importante é que os alunos entendam que a escolha do audiovisual é feita com base no que defende a perspetiva que vão apresentar, e não o que é mais divertido ou chocante. (Lembrem-se de verificar que tecnologia vai estar disponível nas suas salas. Tem internet? Tem computador ou os alunos têm que trazer os seus? Tem projetor? E o cabo para conectar é HDMI ou RGA? Precisa de um adaptador para o PC ou o iMac? Etc.)

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É muito importante que os professores tenham uma rubrica com todos estes elementos e outros que vão avaliar, a que os alunos devem ter acesso antes da apresentação. Esta é uma forma de eles saberem o que é esperado deles, e de verificar que incluíram todos os aspetos que os professores esperam. Por outro lado, é fundamental dar feedback individualizado sobre a apresentação, mesmo quando é feita em grupo. Tentem ser o mais específicos possível dentro das três ou quatro coisas em que vocês decidirem concentrar-se. "Excelente apresentação!" pode parecer um ótimo feedback, mas não será tão útil como dizer: “Fantástico! Você usou corretamente o vocabulário que estudamos sobre este tema, e apresentou a informação de forma concisa e clara. Você precisa rever quando usar o pretérito perfeito e imperfeito. Algumas vezes você usou um quando seria o outro. Se precisar, venha falar comigo sobre isto. Excelente apresentação! Parece que os colegas também gostaram muito.”

Caso queiram, peçam aos alunos para usar esta lista para ajudar a preparar a apresentação: